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terça-feira, 27 de março de 2012

Introdução aos conceitos: Fenomenologia e Existencialismo_

Fenomenologia

“Fenomenologia designa uma ciência, uma conexão de disciplinas científicas; mas, ao mesmo tempo e acima de tudo, fenomenologia, designa um método e uma atitude intelectual: a atitude intelectual especificamente filosófica, o método especificamente filosófico”. Husserl

A fenomenologia surge no final do século XIX e início do século XX, a partir da necessidade de se fundamentar de forma rigorosa o conhecimento, é uma forma de conhecimento do mundo.

A partir de então vários pensadores da época, começaram a analisar seus objetos de estudo através da fenomenologia, surgindo então o movimento fenomenológico/atitude fenomenológica.

A fenomenologia não é mera e simples descrição dos fenômenos, é sim o método que todos os filósofos e também psicólogos adotam ou tentam adotar quando se perguntam quais são os dados incontestáveis com base nos quais é possível justificar certa concepção da realidade; quais são as coisas manifestas (os fenômenos), tão claramente manifestas que não podem ser negadas.

A origem da vida intelectual de Husserl foi na matemática, movido pelo seu interesse na Astronomia, e através dela acreditava encontrar as repostas de que necessitava para as perguntas sobre sua própria fundamentação. Foi movido por essa preocupação com a fundamentação na matemática, que Husserl se aproxima da Filosofia.

Entusiasmado pela Filosofia, resolveu dedicar-se exclusivamente a ela, no impulso entusiasmado de lhe encontrar fundamentação, capaz de sustentar também todas as outras ciências. 

É a partir da noção de intencionalidade da consciência que Husserl iniciará uma contínua busca por aquilo que nomeou mais tarde de “Ciência Eudética” – que se relaciona com a essência das coisas. Sua obra é reflexo da sua apaixonada busca pela exatidão.

O movimento fenomenológico estabeleceu uma distinção entre fenômenos (sons, cores, imagens – e funções mentais), e indicou o estudo destes fenômenos como fenomenologia.

No domínio da cultura, apenas podia caber a atitude de compreensão. Compartilhando dessa ideia e acreditando ser possível uma filosofia como ciência de rigor, Husserl crê que o ponto de partida deve ser o retorno às coisas mesmas: “Não é das filosofias que deve partir o impulso da investigação, mas, sim, das coisas e dos problemas”.

Husserl pretende esclarecer as origens do pensar e discutir os seus fundamentos separando o pensar do que é pensado,  por isso, ele expressa o lema “vamos até as coisas”, ou seja,  vamos ver como as coisas são, ou, “voltar às coisas mesmas”.

O fenômeno indica “o que aparece, o aparecer, a aparência”, a recomendação de Husserl é a de que tomemos os fenômenos como ponto de partida, pois se o fenômeno é aquilo que é manifesto, é aquilo que aparece, e a consciência é sempre consciência intencional, isto é, sempre consciência de alguma coisa. A intenção é a observação e exploração dos fundamentos, descrição do que é dado, do que é manifesto.

Para chegarmos às coisas mesmas, não devemos partir de “verdades” estabelecidas, não devemos utilizá-las como ponto de partida para o uso filosófico; a ideia central é colocar fora de circuito a atitude natural.

A fenomenologia é um método que envolve aspectos culturais, intelectuais e emocionais. É também um método empírico porque depende das experiências e reações de cada indivíduo. Cada pessoa tem experiências e percepções distintas de acordo com suas recordações, vivências, sentimentos e desejos.

O ato intencional significa uma percepção, uma emoção, uma imaginação, um recordação, que se tem em relação a um objeto. E é esse ato intencional, esse essas sensações, que Husserl estabelecia como ponto de partida para discutir o conhecimento. Segundo Husserl, o psíquico não é a aparência empírica, mas sim, a vivência averiguada na reflexão.

A atividade psíquica é a atividade intencional, reveladora de objetos; e um mesmo objeto pode ser visado através de uma multiplicidade de vivências distintas: o carvalho na floresta negra, pode ser visto como uma espécie Botânica, como um objeto da percepção, como uma lembrança da árvore que vi quando estive na Floresta Negra, pode ser apreendido como uma simples e bela árvore,  sob a qual faremos um piquenique num belo dia de sol... A consciência, portanto, é condição fundamental (fundamento) do conhecimento.

Para sedimentar o conhecimento:

Quanto o ser humano se depara com algo que se apresenta diante de sua consciência, primeiro o nota e o percebe em total harmonia com sua forma, a partir de sua consciência perceptiva.

Após perceber o objeto, este entra na sua consciência e passa a ser um fenômeno com a intenção de percebê-lo, o ser humano intui sobre ele, imagina-o, em toda sua plenitude, e será capaz de descrever o que ele realmente é. Dessa forma, o conhecimento do fenômeno é gerado em torno do próprio fenômeno.

O método fenomenológico na psicologia é indicado para casos subjetivos, como aqueles que refletem a experiência cotidiana, o suicídio por exemplo.

Existencialismo

Em meio às turbulências sociais das décadas de 1920 e 1930 na Alemanha (nazismo), o pensamento existencialista aproxima-se da Fenomenologia e vai compor uma visão diferenciada, mas não distanciada, da fenomenologia de Husserl ou husserliana.

Inquietação com a ação e consciência do problema da escolha na existência humana talvez seja o que mais caracterize os autores que integram o que chamamos de Existencialismo.

O termo foi apropriado pela mídia no final dos anos 1940 para designar aspectos sociais da vida francesa na qual intelectuais estavam entrelaçados, especialmente Jean-Paul Sartre. O que unia os pensadores da época é a concepção de uma filosofia: que seja concebida e ser exerça como análise da existência, desde que por existência se entenda o modo de ser do homem no mundo.

O existencialismo é caracterizado pelo fato de questionar o modo de ser do homem, pelo fato de questionar o próprio mundo. É a análise da existência, os esclarecimentos e a interpretação dos modos como o mundo se manifesta ao homem e determina ou condiciona as suas possibilidades. A relação homem-mundo constitui assim o tema único de toda filosofia existencialista.

Ao falarmos de existencialismo, o que primeiro acentuamos é a palavra existência, que está ligada ao termo existere, que significa sair, sair de um domínio, de uma casa, de um esconderijo; é, portanto, movimento para fora e por extensão, mostrar-se.

O que há de estranho no homem é que ele existe e é esta estranheza que mobiliza os existencialistas na sua reflexão sobre a existência. É desta tensão com a estranheza da existência que surge o pensamento de Soren A. Kierkegaard, pastor protestante dinamarquês que marcará o primeiro momento da história do Existencialismo. Assim como a fenomenologia está para Husserl, o Existencialismo está para Kierkegaard.

O ponto de partida de Kierkegaard está ligado à sua crítica ao pensamento dominante na Filosofia de então, a hegeliana. Coloca-se frontalmente contra o domínio totalitário da Razão, no qual a vida humana é dissolvida em puros conceitos racionais e subordinada à vida própria da ideias. “O que opõe Kierkegaard a Hegel”, diz Sartre, “é que, para o Hegel, o trágico de uma vida é sempre superado. O vivido se dissolve no saber”.

O homem existente, portanto, não pode ser assimilado por um sistema de ideias, afirma ainda Sartre, “por mais que se possa dizer e pensar sobre o sofrimento, ele escapa ao saber , na medida em que é sofrido em si mesmo, para si mesmo, onde o saber permanece incapaz de transformá-lo”. Não interessa falar sobre o sofrimento e sim sobre o sofrimento de alguém em particular. Em Kierkegaard, o Existencialismo é a expressão de uma experiência singular, individual, pois existência é uma tensão entre o que o homem é e o que ele não é.

É na relação com o divino e através da fé, que Kierkegaard acredita que compreenderemos melhor o peso desta falta do homem, falta perante um Deus para com o qual tem uma dívida. Para Kierkegaard o existir apenas tem algum sentido enquanto nele está a presença divina, esse enigma não pode ser resolvido pela reflexão, segundo ele.

Marcando um momento específico da relação entre Fenomenologia e Existencialismo, situa-se o pensamento de Martin Heidegger que explorará, através da fenomenologia o que é o SER. É esta a questão fundamental da filosofia para ele, a questão do ser.

A divulgação do existencialismo atinge seu ápice com Jean-Paul Sartre, no pós-guerra na França. Após a publicação de O Ser e o Nada em 1943, que sofreu críticas por parte de católicos, comunistas, intelectuais. Ele estava sempre entre o elogio e o ódio.

De acordo com Sartre, o seu princípio existencialista apregoa que o homem deve criar sua própria essência; é jogando-se no mundo, sofrendo, lutando, que aos poucos se define. O homem só pode agir se compreender que conta exclusivamente consigo mesmo, que está sozinho e abandonado no mundo, no meio de responsabilidades infinitas, sem auxílio nem socorro, sem outro objetivo além do que der a si próprio, sem outro destino além do que forjar para si mesmo aqui na Terra.

Nietszche recomendou àqueles que decidem se aventurar no campo da filosofia, que sua educação filosófica seja feita através de viagens, mas sem esquecer que o resultado final dessa educação depende do modo como escolhemos viajar.

1)     Os que querem  ser mais vistos do que ver nas viagens;

2)     Os que realmente vêem algo no mundo;

3)     Os que vivenciam alguma coisa em função do que é visto;

4)     Os que incorporaram e carregam consigo vivências da viagem;

5)     Os que colocam as experiências incorporadas de novo para fora, através de ações e de obras tão logo retornam às suas casas.

O segredo de qualquer viagem está na capacidade de deixar-se atravessar por aquilo que encontramos pelo caminho.



Fonte:

Ewald, A. (2008). Fenomenologia e Existencialismo: articulando nexos, costurando sentidos. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 8(2), 149-165.

http://www.slideshare.net/lucilapesce/fenomenologia

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